segunda-feira, 23 de julho de 2012

Segredos da vida em paz com os vizinhos

Há quem diga que o vizinho é o nosso parente mais próximo. Num prédio de condomínio, então, o convívio muitas vezes acaba sendo até mais intenso do que com um familiar, já que o vizinho está “colado” na parede do lado, toma o mesmo elevador na hora de ir ao trabalho, aparece na garagem tanto na volta para casa, divide os mesmos espaços nas áreas comuns do edifício




Por isso, o bom relacionamento entre os condôminos é algo mais que desejável para quem escolhe morar num apartamento. Mesmo com os problemas de convivência habituais em qualquer prédio, há condomínios na cidade de São Paulo que conseguiram encontrar soluções viáveis para integrar seus moradores e viver em harmonia.

No Condomínio Duque de York, no Jardim da Saúde, zona sul, o caminho para motivar a interação entre os moradores foi o esporte. O síndico Luiz Antônio Vieira observava as pessoas no prédio e as achava um pouco distantes entre si. Resolveu, então, aproveitar melhor a estrutura disponível, como quadra oficial, de squash e de tênis, e pista de cooper com quase cem metros quadrados de área útil, para aproximá-las. “Percebemos que poderíamos explorar essa área de maneira inteligente”, afirma Vieira. 

No ano passado, ele lançou no condomínio o Programa de Qualidade de Vida, para incentivar os moradores a se exercitarem. Como parte da iniciativa, a sala do zelador foi transformada numa academia de ginástica, depois de uma mobilização de todos os moradores para que a idéia fosse aprovada na assembléia. Conversa vai, conversa vem, descobriu-se que alguns dos condôminos eram profissionais de educação física e eles se ofereceram a prestar serviço de personal trainer aos vizinhos na nova instalação.

Leandro Guerreiro Santiago, de 29 anos, é um deles. Além de personal trainer, ele também ocupa, duas vezes por semana, o salão de festas do condomínio com aulas de ioga, modalidade na qual se especializou numa pós-graduação. As aulas contribuem para o objetivo do programa. “A ioga é uma prática que tem essa visão interacionista, de reunir as pessoas. É muito acessível e sem contra-indicação”, diz Santiago. 

Mesmo nas outras dependências do edifício, o professor conta que sentiu uma diferença de comportamento entre os moradores. “As pessoas têm conversado mais, têm se cumprimentado mais”, relata Santiago. 

A mãe dele, a administradora Maria Aparecida Guerreiro, também participa das atividades. “Foi muito bom sim, deu pra conhecer mais as pessoas. Elas começaram a se encontrar mais, fora daquele ‘rush’ do dia-a-dia”, diz ela, referindo-se aos breves encontros cotidianos no elevador ou na garagem. 

Quanto à oportunidade de fazer novas amizades, Maria Aparecida acha fundamental. “Porque as pessoas estão cada vez mais solitárias. É muito bom fazer amigos e se você consegue fazer isso próximo, sua vida fica mais saudável.”

Recentemente, foi criado no edifício um grupo de caminhadas. A idéia é que eles saiam para andar e correr nas ruas próximas e em parques, como o Ibirapuera, sempre com a supervisão de professores. Vieira diz que um dos moradores irá patrocinar a confecção de camisetas com o nome do condomínio estampado. As crianças também participam de atividades, seja em aulas, como de tênis, como em brincadeiras no playground.

O síndico conta que está preparando uma enquete para aplicar entre os moradores do condomínio, para saber qual a prática esportiva mais interessa a eles. A intenção é, mais adiante, realizar campeonatos com os moradores.

FUTEBOL

O esporte também é o que dá a liga na união entre os condôminos do Condomínio Edifício Torres de Sabará I, no Jardim Marajoara, zona sul. Acaba afetando até o prédio vizinho. Toda sexta-feira à noite, já há quase seis anos, numa quadra alugada ao lado do edifício, moradores dos dois empreendimentos se juntam para disputar uma partidinha de futebol. “Criou uma amizade”, conta o ex-síndico Fábio Tadeu Sarabion Machado, que depois de 12 anos na função passou o bastão para a esposa, mas ainda toma conta de algumas tarefas relacionadas à administração do condomínio. 

A amizade vai além do futebol. Mesmo nos churrascos organizados no Torres de Sabará I, os vizinhos do prédio ao lado comparecem. Cada um leva um pedaço de carne, um prato ou uma bebida e pelo menos três vezes por mês o sábado vira uma festa - mas com hora para acabar: 22 horas. “Nós temos uma área grande com playground, o pessoal senta e a gente conversa”, conta. Sempre rola um campeonato de de baralho, tanto entre os homens como entre as mulheres. Às vezes, como em todo bom churrasco, um grupo de pagode vai animar a turma. 

Quando não acontece o chamado “churrasco comunitário”, Machado diz que os moradores reclamam. A alegre confraternização dá certo. “Ficou um ambiente muito agradável no condomínio.”

CATÓLICOS

Como a maioria dos moradores do Condomínio Rossano, no Sumarezinho, zona oeste, é formada por católicos e por idosos, a maneira encontrada pelo síndico Carlos Alberto Almeida Duarte para haver uma integração maior entre eles foi realizar uma missa na igreja próxima. “O objetivo é só a união entre as pessoas e o agradecimento de tudo o que aconteceu de bom no ano.”

O questionamento era quanto à periodicidade do evento. Ficou definido então uma cerimônia anual. “Para a gente não perder esse público e o entrosamento entre as pessoas, marcamos no comecinho de dezembro”, diz Duarte. Isso começou há três anos. “E todo ano a gente percebe que aumenta o número de pessoas”, conta o síndico.

O edifício de Duarte fica num complexo de quatro condomínios e é interligado por meio da garagem e da área útil ao Condomínio Edifício Régio, que também realiza uma missa anual para integrar os moradores. A diferença: é feita no próprio salão de festas e já dura seis anos, conta o síndico Antônio Carlos Mendes. “O mundo do jeito que está, se a gente não se unisse entre nós, o que seria?”, indaga ele.

O prédio apresenta o mesmo perfil do vizinho (maioria dos condôminos na terceira idade e católica) e a integração entre eles ocorre também nesse momento de fé. Moradores de um empreendimento são convidados para a missa do outro e vice-versa. “Houve uma mudança grande da convivência dos moradores aqui do prédio e dos moradores dos quatro prédios”, constata Mendes. 

Vivendo há 32 anos no prédio, sendo seis como síndico, Mendes diz que achava muito triste a falta de uma ocasião em que os condôminos pudessem se reunir, quando pensou em realizar a missa. Ele comemora que, no encontro do ano passado, foram distribuídas todas as 120 rosas especiais e benzidas. 

Duarte, o colega de função de Mendes no edifício Rossano, conta que pretende organizar mais atividades para ampliar a integração entre os condôminos. Como muitos moradores fazem caminhadas sozinhos, ele planeja criar um grupo para que realizem a atividade juntos. “Nosso bairro é privilegiado, porque existe muita árvore nele. Na primeira reunião de condomínio do ano, vou jogar a idéia”. revela.

CINEMA

Pelo menos duas vezes ao mês, tanto as crianças quanto os adultos que moram no Condomínio Projeto Jardim Marajoara, na zona sul, têm um programa certo para se divertirem e interagirem: assistir a um filme na sala de cinema do edifício. Há um ano e meio, depois da sugestão de um morador, o síndico Marcos Knauth Lacerda transformou um hall aberto num espaço reservado com 40 cadeiras, projetor, telão, televisão, aparelho de DVD e ar-condicionado, com o objetivo de melhorar a convivência no condomínio.

Cartazes anunciando as atrações são colados próximo aos elevadores. O espectador fica à vontade para levar a pipoca. “A sessão mais cheia é a de crianças”, aponta Lacerda. Ele diz que o maior sucesso de audiência foi a exibição do filme do bruxinho Harry Potter, no dia das crianças, com direito a brinde para os baixinhos: um saquinho cheio de doces. 

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