Há quem diga que o vizinho é o nosso parente
mais próximo. Num prédio de condomínio, então, o convívio muitas vezes acaba
sendo até mais intenso do que com um familiar, já que o vizinho está “colado”
na parede do lado, toma o mesmo elevador na hora de ir ao trabalho, aparece na
garagem tanto na volta para casa, divide os mesmos espaços nas áreas comuns do
edifício
Por isso, o bom relacionamento entre os
condôminos é algo mais que desejável para quem escolhe morar num apartamento.
Mesmo com os problemas de convivência habituais em qualquer prédio, há
condomínios na cidade de São Paulo que conseguiram encontrar soluções viáveis
para integrar seus moradores e viver em harmonia.
No Condomínio Duque de York, no Jardim da Saúde, zona sul, o caminho para
motivar a interação entre os moradores foi o esporte. O síndico Luiz Antônio
Vieira observava as pessoas no prédio e as achava um pouco distantes entre si.
Resolveu, então, aproveitar melhor a estrutura disponível, como quadra oficial,
de squash e de tênis, e pista de cooper com quase cem metros quadrados de área
útil, para aproximá-las. “Percebemos que poderíamos explorar essa área de
maneira inteligente”, afirma Vieira.
No ano passado, ele lançou no condomínio o Programa de Qualidade de Vida, para
incentivar os moradores a se exercitarem. Como parte da iniciativa, a sala do
zelador foi transformada numa academia de ginástica, depois de uma mobilização
de todos os moradores para que a idéia fosse aprovada na assembléia. Conversa
vai, conversa vem, descobriu-se que alguns dos condôminos eram profissionais de
educação física e eles se ofereceram a prestar serviço de personal trainer aos
vizinhos na nova instalação.
Leandro Guerreiro Santiago, de 29 anos, é um deles. Além de personal trainer,
ele também ocupa, duas vezes por semana, o salão de festas do condomínio com
aulas de ioga, modalidade na qual se especializou numa pós-graduação. As aulas
contribuem para o objetivo do programa. “A ioga é uma prática que tem essa
visão interacionista, de reunir as pessoas. É muito acessível e sem
contra-indicação”, diz Santiago.
Mesmo nas outras dependências do edifício, o professor conta que sentiu uma
diferença de comportamento entre os moradores. “As pessoas têm conversado mais,
têm se cumprimentado mais”, relata Santiago.
A mãe dele, a administradora Maria Aparecida Guerreiro, também participa das
atividades. “Foi muito bom sim, deu pra conhecer mais as pessoas. Elas
começaram a se encontrar mais, fora daquele ‘rush’ do dia-a-dia”, diz ela,
referindo-se aos breves encontros cotidianos no elevador ou na garagem.
Quanto à oportunidade de fazer novas amizades, Maria Aparecida acha
fundamental. “Porque as pessoas estão cada vez mais solitárias. É muito bom
fazer amigos e se você consegue fazer isso próximo, sua vida fica mais
saudável.”
Recentemente, foi criado no edifício um grupo de caminhadas. A idéia é que eles
saiam para andar e correr nas ruas próximas e em parques, como o Ibirapuera,
sempre com a supervisão de professores. Vieira diz que um dos moradores irá
patrocinar a confecção de camisetas com o nome do condomínio estampado. As
crianças também participam de atividades, seja em aulas, como de tênis, como em
brincadeiras no playground.
O síndico conta que está preparando uma enquete para aplicar entre os moradores
do condomínio, para saber qual a prática esportiva mais interessa a eles. A
intenção é, mais adiante, realizar campeonatos com os moradores.
FUTEBOL
O esporte também é o que dá a liga na união entre os condôminos do Condomínio
Edifício Torres de Sabará I, no Jardim Marajoara, zona sul. Acaba afetando até
o prédio vizinho. Toda sexta-feira à noite, já há quase seis anos, numa quadra
alugada ao lado do edifício, moradores dos dois empreendimentos se juntam para
disputar uma partidinha de futebol. “Criou uma amizade”, conta o ex-síndico
Fábio Tadeu Sarabion Machado, que depois de 12 anos na função passou o bastão
para a esposa, mas ainda toma conta de algumas tarefas relacionadas à
administração do condomínio.
A amizade vai além do futebol. Mesmo nos churrascos organizados no Torres de
Sabará I, os vizinhos do prédio ao lado comparecem. Cada um leva um pedaço de
carne, um prato ou uma bebida e pelo menos três vezes por mês o sábado vira uma
festa - mas com hora para acabar: 22 horas. “Nós temos uma área grande com
playground, o pessoal senta e a gente conversa”, conta. Sempre rola um
campeonato de de baralho, tanto entre os homens como entre as mulheres. Às
vezes, como em todo bom churrasco, um grupo de pagode vai animar a turma.
Quando não acontece o chamado “churrasco comunitário”, Machado diz que os
moradores reclamam. A alegre confraternização dá certo. “Ficou um ambiente
muito agradável no condomínio.”
CATÓLICOS
Como a maioria dos moradores do Condomínio Rossano, no Sumarezinho, zona oeste,
é formada por católicos e por idosos, a maneira encontrada pelo síndico Carlos
Alberto Almeida Duarte para haver uma integração maior entre eles foi realizar uma
missa na igreja próxima. “O objetivo é só a união entre as pessoas e o
agradecimento de tudo o que aconteceu de bom no ano.”
O questionamento era quanto à periodicidade do evento. Ficou definido então uma
cerimônia anual. “Para a gente não perder esse público e o entrosamento entre
as pessoas, marcamos no comecinho de dezembro”, diz Duarte. Isso começou há
três anos. “E todo ano a gente percebe que aumenta o número de pessoas”, conta
o síndico.
O edifício de Duarte fica num complexo de quatro condomínios e é interligado
por meio da garagem e da área útil ao Condomínio Edifício Régio, que também
realiza uma missa anual para integrar os moradores. A diferença: é feita no
próprio salão de festas e já dura seis anos, conta o síndico Antônio Carlos
Mendes. “O mundo do jeito que está, se a gente não se unisse entre nós, o que
seria?”, indaga ele.
O prédio apresenta o mesmo perfil do vizinho (maioria dos condôminos na
terceira idade e católica) e a integração entre eles ocorre também nesse
momento de fé. Moradores de um empreendimento são convidados para a missa do
outro e vice-versa. “Houve uma mudança grande da convivência dos moradores aqui
do prédio e dos moradores dos quatro prédios”, constata Mendes.
Vivendo há 32 anos no prédio, sendo seis como síndico, Mendes diz que achava
muito triste a falta de uma ocasião em que os condôminos pudessem se reunir,
quando pensou em realizar a missa. Ele comemora que, no encontro do ano
passado, foram distribuídas todas as 120 rosas especiais e benzidas.
Duarte, o colega de função de Mendes no edifício Rossano, conta que pretende
organizar mais atividades para ampliar a integração entre os condôminos. Como
muitos moradores fazem caminhadas sozinhos, ele planeja criar um grupo para que
realizem a atividade juntos. “Nosso bairro é privilegiado, porque existe muita
árvore nele. Na primeira reunião de condomínio do ano, vou jogar a idéia”.
revela.
CINEMA
Pelo menos duas vezes ao mês, tanto as crianças quanto os adultos que moram no
Condomínio Projeto Jardim Marajoara, na zona sul, têm um programa certo para se
divertirem e interagirem: assistir a um filme na sala de cinema do edifício. Há
um ano e meio, depois da sugestão de um morador, o síndico Marcos Knauth
Lacerda transformou um hall aberto num espaço reservado com 40 cadeiras,
projetor, telão, televisão, aparelho de DVD e ar-condicionado, com o objetivo
de melhorar a convivência no condomínio.
Cartazes anunciando as atrações são colados próximo aos elevadores. O
espectador fica à vontade para levar a pipoca. “A sessão mais cheia é a de
crianças”, aponta Lacerda. Ele diz que o maior sucesso de audiência foi a
exibição do filme do bruxinho Harry Potter, no dia das crianças, com direito a
brinde para os baixinhos: um saquinho cheio de doces.
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